sexta-feira, 1 de maio de 2009

Da série, ambiente escolar: ENEM 2008.


Segundo divulgado pelo jornal O Globo de quarta-feira, 29 de abril, na matéria “Retratos do Brasil”, o Colégio São Bento do Rio de Janeiro é bicampeão no ranking do ensino médio nacional. Faz parecer, logo de cara, que quanto maior é o recurso, maior será o rendimento de uma instituição de ensino. Será? É claro que dinheiro faz falta e até, ao contrário do que muitos dizem, traz felicidade. Mas, como professor há cerca de onze anos e membro de uma família cuja experiência no magistério vem desde o ano de 1957, já vi, e muito, instituições de ensino bem modestas e de excelentes resultados práticos. Há várias provas vivas de GENTE que passou por tais instituições e hoje contam com uma formação digna e de excelência. Gente que não só faz, mas faz bem! Ora! Então, o que de fato é responsável pela boa qualidade de ensino numa instituição? De fato, é um agregado de variáveis. Isso aí_ VARIÁVEIS_ porque cada caso sempre será um caso.

Pouco confio em rankings, sempre desconfio que os números sejam, na maioria das vezes, parâmetros limitados quando o tema abordado é de ambientação social e/ou cultural, assim como no caso da educação ou do ensino de uma forma geral. Mas também sou forçado a concordar que ainda sejam, os números, melhores que nada.

Na tentativa de não violentar a coerência, lancei-me na análise com base em minha experiência de vida e profissional, ou seja, com olhar de aluno que sempre conviveu em casa com professores e também, com olhar de professor. Um dos primeiros frutos dessa análise foi de que as escolas particulares de melhor colocação, também são as mais caras, logo, fez-me pensar que seus alunos têm um aparato de recursos que pode suplementar ou até mesmo complementar a instituição da qual faz parte. Sei lá, de cursos extraclasses até professores particulares etc.

Já, no caso das escolas públicas, e a coisa pública nem sempre é universal, é clamorosa a distinção que existe entre essas instituições. De um lado as escolas de excelência, federais em sua maioria, que selecionam os alunos através de concursos concorridíssimos de admissão, algumas até com a prática da jubilação em caso de reprovação e, do outro lado, a estrondosa maioria de escolas públicas estaduais que, aos trancos e barrancos, recebem, universalmente, toda espécie de aluno, não seleciona, não discrimina, é autoritariamente democrática e é alvo da cultura do “apenas quero o meu diploma”. Nas escolas “públicas” de bom rendimento, o contribuinte custeia um aluno cuja família investiu no seu ingresso e investe na sua manutenção dentro dessas instituições. Parece um bom investimento, a sociedade banca a formação de um cidadão que, teoricamente, no futuro reverterá essa boa qualificação em benefício para a própria sociedade da qual ele também faz e continuará fazendo parte. Agora, o que dizer acerca do desperdício do contribuinte nas demais escolas públicas, aquelas que ranquearam lá embaixo? Aí, sai caro demais! A sociedade custeia um pseudocidadão que não se convence de que o público não é de graça, pelo contrário, às vezes sai bem caro no orçamento social, um indivíduo cuja família parece também não compreender a idéia do custo e dos reais benefícios da educação pública de qualidade e, sobretudo, uma incomensurável perda de tempo. Ou seja, um tremendo desperdício.

Quem, além de confiar no academicismo educacional, tem a prática recente e cotidiana da sala de aula pública (e não “pública”), sabe muito bem do que estou falando. O PROFESSOR, uma criatura que ao mesmo tempo consegue ser negligenciada e responsabilizada pelas autoridades e pela sociedade, cuja sua gênese, certamente alicerçada de sonhos, aspirações e boas intenções, entra em sala de aula numa escola pública e se depara, na maioria das vezes, com um ambiente no mínimo decepcionante, em alguns casos até amedrontador. Raramente, se não nunca, fora feito algo efetivo para esse profissional, para sua autoestima, para o seu conforto, para sua formação, para sua satisfação profissional, sustentabilidade etc. Pelo que há de mais sagrado, não me falem em bugigangas tecnológicas que algumas autoridades insistem ser a solução, não me venham com a ladainha salarial ou com as inúmeras capacitações continuadas_ como se fossemos incapazes_ tudo isso chega a ser um insulto a nossa capacidade cognitiva. Precisamos sim de recursos, mas com muito critério, estudo e pesquisa. Mas o principal recurso que falta no ambiente educacional público é a valorização do processo, é a operacionalização e a logística compatível com as realidades de cada ambiente específico e, sobretudo, a conscientização da sociedade de que a escola é, junto à família, o alicerce de uma sociedade.

Enquanto os nossos jovens, a família de nossos jovens e a sociedade em geral enxergar a escola com esta lente desfocada do simplismo, enquanto o cinismo social imperar, enquanto as perspectivas passarem ao largo do ambiente escolar e, principalmente, enquanto as nossas autoridades continuarem dando maus exemplos, nem mesmo uma intervenção milagrosa mudará esse quadro medíocre e perverso refletido em parte pelo ranking do ENEM.

Ou nos mancamos que precisamos o quanto antes de uma revolução cultural, ou seguiremos enxugando gelo e desperdiçando o nosso tempo e os nossos recursos nisso que hoje chamamos de educação.

A mediocridade não está somente na escola, mas em toda sociedade. A escola é apenas o seixo mais visível desse complexo relevo social e, de certa forma injustamente, uma das instituições mais alvejadas de responsabilidade pelo nosso fracasso enquanto sociedade. Se assim continuar, haverá a era em que ninguém, excetos os medíocres e os fracassados, investirá o seu tempo e a seu potencial no ofício de ensinar o próximo.

Oxalá eu esteja errado, mas a luz que vislumbro no fim desse túnel parece ser de uma titânica carreta desgovernada em alta velocidade e vinda em nossa direção.

Vida longa, sucesso, paz e aquele abraço!